"Tiraram ao meu marido, e a todas as pessoas nesta situação, o direito de lutar pela vida."
As palavras são de Teresa Marques, mulher de António Marques, doente de 61 anos diagnosticado com cancro do pulmão que morreu no dia 27 de março sem fazer quimioterapia devido ao atraso de exames decisivos para definir o tratamento oncológico.
António era acompanhado no Hospital de Portimão desde 26 de dezembro de 2018, altura em que começou a fazer vários exames.
Numa corrida contra o tempo, a colheita realizada na biópsia no dia 8 de janeiro tinha como destino o IPO de Lisboa onde devia ser analisada num período máximo de sete dias, segundo estudos médicos.
"Fui informada pelos médicos de que teria de aguardar entre quatro e seis semanas pelo resultado", disse ao
CM Teresa.
Mais de um mês depois, a mulher ficou em choque ao ser avisada pelos médicos de que "o exame ainda não tinha sido enviado para o IPO de Lisboa".
O
CM sabe que a falta de um termo de responsabilidade, ou seja, uma garantia de pagamento que acompanhasse a amostra, levou o IPO a recusar o exame enviado pelo Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) no dia 23 de janeiro.
Sem palavras, numa primeira conversa com a equipa médica, Teresa ficou ainda a saber que a amostra "não seria enviada para o IPO".
Teresa Marques elogia o esforço dos profissionais de Saúde para ajudar o marido e revela que foi informada pelos médicos de que "havia doentes a lutar contra o cancro na mesma situação há meses, à espera deste exame de mutações do gene".
Na fase em que o resultado do exame foi revelado o corpo de António já não era capaz de suportar a quimioterapia.
Neste processo burocrático e de falhas na comunicação entre os dois hospitais, perderam-se 27 dias. A amostra foi reenviada a 19 de fevereiro, com a garantia de pagamento do CHUA. O resultado foi revelado dia 27. "Foi um processo agressivo. Tiraram a dignidade à despedida do meu marido", lamentou Teresa.
O
CM apurou que há registo de pelo menos cinco casos no Hospital em Portimão, e outros ainda por quantificar em Faro, ocorridos entre o início de dezembro de 2018 e março deste ano.
O
CM apurou que 26 exames foram pedidos pelo CHUA ao IPO de Lisboa desde dezembro de 2018 até abril deste ano.
O processo burocrático fez com que António perdesse 50 dias entre a colheita e a revelação do resultado. Mas afinal qual o preço que é preciso pagar para salvar uma vida? O exame tem um valor de cerca de 200 euros.
"Doentes morreram sem saber o resultado do exame"
Cristóvão Norte, deputado do PSD, garante que sabe que "houve doentes que morreram sem saber o resultado das análises enviadas para o IPO".
O deputado já tinha questionado a ministra da Saúde a 27 de março sobre os atrasos. A governante admitiu "atrasos de três semanas devido ao termo de responsabilidade".
PORMENORES CausasCerca de 85% dos casos de cancro do pulmão no homem e 65% na mulher são causados pelo fumo do tabaco, que contém numerosas substâncias carcinogénicas.
SintomasExistem vários sinais de alarme que, por coincidirem com outros problemas, são muitas vezes desvalorizados. Uma vez que o cancro do pulmão é na maioria dos casos causado pelo tabaco, muitos dos doentes apresentam falta de ar, tosse e expetoração persistentes.
TratamentoOs tratamentos mais frequentemente propostos são a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia. Estes podem ser realizados de forma isolada ou combinados entre si, sequencialmente ou em simultâneo. A cirurgia é utilizada quando é provável que todo o tumor possa ser retirado.
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Atualizado a 19 de fev de 2020 | 09:10