Carlos Santos Ferreira, que presidiu à CGD entre 2005 e 2007, admitiu no Parlamento que o negócio de Vale do Lobo - que está em investigação na Operação Marquês e que resultou em perdas registadas de 81 milhões de euros - "é uma má operação com maus resultados".
O ex-banqueiro não soube explicar, contudo, o motivo pelo qual a gestão do banco público aceitou, em reunião do conselho de administração a que presidia e em que participou, dar ‘carta branca’ a Armando Vara para negociar a entrada da CGD no capital de Vale do Lobo.
Depois de reconhecer que a delegação de competências num administrador "não é normal", Santos Ferreira sentiu dificuldades em responder sobre os motivos que justificaram tal decisão. "Se está lá a minha assinatura está a minha presença e quando decidi foi de acordo com o que achava aceitável", começou por dizer.
Face à insistência dos deputados da comissão de inquérito à CGD, Santos Ferreira adiantou que "a justificação está em ata", o que foi desmentido pelos parlamentares.
Armando Vara é acusado de ter recebido um milhão de euros pela entrada da CGD no capital do Vale do Lobo. Um montante de igual valor terá, segundo a acusação do Ministério Público, ido parar a Sócrates.
Sobre o antigo primeiro-ministro, Santos Ferreira adiantou que a relação não era próxima. "Eu e o engenheiro José Sócrates não somos visita de casa um do outro." O ex-banqueiro garantiu nunca ter falado com o antigo governante sobre a nomeação para a Caixa nem sobre a posterior ida para o BCP.
Ainda assim, evitou fazer comentários que pudessem comprometer o ex-governante. "O Eng. José Sócrates está num momento particularmente dedicado da vida dele, eu não queria por palavras piorar a situação em que se encontra sob qualquer ponto de vista."
Quanto aos financiamentos a Joe Berardo e à Metalgest, o ex--banqueiro rejeitou a ideia de que o empresário tivesse tratamento de favor na CGD, justificando as fracas garantias dadas por Berardo com a "autonomia financeira" da Metalgest.
Departamento de risco na Caixa "não foi bem aceite" António de Sousa, que presidiu ao banco público entre 2000 e 2004, afirmou na comissão de inquérito que a criação de um departamento de risco na CGD, no ano 2000, "não foi bem aceite".
"Como qualquer alteração profunda que se faça, inevitavelmente ela causa uma série de choques e reações", frisou o ex-banqueiro, adiantando que "a criação de um departamento de risco, que iria permitir contrapor uma opinião aos pareceres jurídicos, não foi bem aceite por toda a gente".
Ex-banqueiro atira culpas de perdas para João Salgueiro António de Sousa disse aos deputados que os membros da administração de João Salgueiro, presidente da CGD que lhe antecedeu no cargo, "não entenderam bem aquilo que estavam a assinar" na operação da Boats Caravela, uma operação que segundo a auditora Ernst & Young (EY) gerou perdas de 340 milhões de euros para o banco público.
PORMENORES Vara desvincula-se do PSNuma carta que foi enviada a António Costa, Armando Vara manifesta a vontade de se desvincular do Partido Socialista de que é militante há mais de 40 anos, adianta o ‘Público’.
Culpas no diretorSantos Ferreira insistiu na ideia de que os créditos aos grandes devedores da Caixa partiram sempre de propostas da Direção de Grandes Empresas. Santos Cabral, que dirigia o departamento, tinha já dito no Parlamento que apresentou as propostas mas nunca as defendeu.
Assalto ao BCP"Relativamente à teoria de que a Caixa financia uma ou duas pessoas e isso faz com que consigam ser eleitos para a administração do BCP, para mim, estamos na categoria do mito urbano", disse Santos Ferreira.